SAÚDE TOTAL
Conversas psicanalíticas com o Dr. Eduardo Baunilha
Selfies
Registrar
momentos marcantes sempre foi uma escolha bastante interessante de todos nós.
Quem nunca sentou na sala com alguns amigos ou mesmo com a família para
desfrutar da alegria de rememorar antigas viagens e aventuras registradas em
fotografias?
Mas
nos tempos modernos o que impera são as selfies,
ou seja, fotografia, muitas vezes tiradas de telefones móveis, de nós mesmos.
Para
terem uma ideia, em 2014 foram feitas 880 bilhões de retratos, sendo a maioria
deles tirados de nós mesmos em forma de selfies.
Em termos quantitativos é contabilizado um bilhão de selfies por dia. Um número que, com certeza, nos mostra que há algo
a mais por trás deste hobby.
E
consequentemente emerge uma pergunta: o que há por trás desta forma insaciável
de registrar a si mesmo?
Segundo
Cristiano Nabuco (2016, p. 261), “os autorretratos digitais, uma nova forma de
expressão social, além de marcar um momento ou registrar um acontecimento, têm
como uma das forças motrizes mais significativas a promoção pessoal”. Será que
não está subjacente nesta necessidade o desejo de ser notado? E por quê?
Além
disso a documentação visual revela-se mais poderosa do que a memória, que não
tendo lugar, perde-se no tempo.
Também
existe um detalhe bem interessante que é denominado de exuberância do momento.
O que é isso? Uma fotografia postada, na maioria das vezes, é exibida após
muitos retoques, usos de filtros e/ou recursos digitais fornecidos pelo próprio
aplicativo da rede social, mascarando a realidade.
Segundo
Pamela Rutledge, em uma artigo da revista Psychology
Today, as selfies têm o poder de
ativar em nós uma busca excessiva por atenção, o que nos faz dependentes
emocionais, indicativos de baixa autoestima e do narcisismo.
“Um
estudo do Reino Unido, envolvendo 2071 sujeitos com idades entre 18 e 30 anos,
revelou que, quando se trata de tirar fotografias, 39% preferiram fotografar a
si mesmos, em vez de a seus familiares, amigos ou animais de estimação”, revela
Nabuco (2016, p. 262).
Todas
estas pesquisas deveriam nos fazer pensar em nosso relacionamento com nossas
câmeras, para não adentrarmos em uma situação de narcisismo excessivo, que pode
atrapalhar nossas relações no trabalho e também as interpessoais.
E
digo isso porque um estudo recente realizado no Reino Unido revelou que as
pessoas que tiram selfies exageradamente
ficam menos simpáticas e mais competitivas, pois a competição com outros que
também postam muito, faz com que potencialize o ciúme e a rivalidade.
A
questão que é muito forte para mim é o fato de que perdemos os momentos vividos
por estarmos constantemente preocupados em registrá-los, o que, para mim, se
constitui em uma disfunção.
Passamos
muito tempo conectados, mas desconectados de nós mesmos. Isso não quer dizer
que não devemos fazer selfies ou
documentar os momentos marcantes da vida, mas devemos ter cuidado para não
perdermos a magia da situação pela preocupação primeira de documenta-la para
exibí-la para os outros.
Nada
deve ser mais importante para nós do que termos discernimento e paz.
Um
abraço fortíssimo em você!
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