ESPERO-TE NA GUARDERIA!
Pergunta simples e direta: "qual tipo de cheiro você gosta de sentir nas pessoas"?
A interrogação deixou-me completamente atarantado. Nunca imaginei que alguém se preocuparia com o tipo de cheiro que me agrada, principalmente a fragrância que me agradaria no primeiro encontro.
Confesso a leviandade da minha resposta. Falei que não conhecia fragrâncias (poetas têm a obrigação de conhecer perfumes, cores e pedras preciosas), que qualquer uma me satisfaria desde que fosse escolhida com suavidade e memória.
Até hoje não consigo esquecer de alguns aromas que experimentei durante a vida. Por onde passo, o cheiro de tabaco e sabão em pó recorda-me da minha avó materna, de toda a sua simplicidade e capacidade de acolher num abraço o sentimento do mundo.
O meu pai sempre gostou do perfume Portinari, da linha Boticário. Foi esse cheiro que fez-me apaixonar pelo grande pintor Cândido Portinari, a minha maior referência de brasilidade e resistência artística.
Aprendi com os livros de Teoria Literária a mesclar os cinco sentidos corporais, de tal modo que às vezes o que escuto tem a paisagem de uma primavera e o que manipulo possui o cheiro das velas aromatizadas sobre candelabros madrepérolas.
Perfume melhor não existe que a lembrança do sol invadindo a casa de Verderval Ferreira, quando a babá entregava na ponta da faca as cocadas para o meu irmão mais moço. Aroma mais incrível do mundo é estar sobre as pedras do Arpoador vendo o mar gorjear na invasão dos turistas e remadores.
A melhor fragrância é a preocupação de saber qual perfume me agradaria. O desejo do primeiro encontro. A possibilidade dos lábios que se colam como a lua fixa no céu da Ilha Mel. A canção entoada no Spotify. Os claros sinais de delicadeza.
Espero-te na Guarderia!
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