SAÚDE MENTAL
Conversas psicanalíticas com o Dr. Eduardo Baunilha
A lógica da Mente Una
A
ideia de Mente Una é recorrente há muito tempo. Poetas e filósofos deixaram
escrito muitas proposições a respeito. Em O
Banquete, Aristófanes relatou: “Esse tornar-se um em vez de dois era a
própria expressão da antiga necessidade da humanidade”. William Butler Yeats escreveu: “As fronteiras
de nossa mente mudam incessantemente, e (...) muitas mentes podem fluir umas
para dentro das outras (...) e criar ou revelar uma só mente, uma só energia”.
Quem
já não ouviu ou leu algum relato de alguém que arriscou a própria vida para
salvar a de outra pessoa? E diante de tal fato emerge a seguinte questão: como
uma pessoa consegue participar do risco e do sofrimento de outro, a ponto de
arriscar a própria autoproteção?
O
filósofo Schopenhauer acreditava que o autosacrifício e a abnegação pelo outro
ocorre porque salvando o próximo, entendemos que estamos salvando a nós mesmos.
Foi
isso o que aconteceu com a tesoureira Carla Pagano, de 31 anos. Ela ajudou a
salvar dois trabalhadores que limpavam os vidros de um prédio que ficaram
presos em um andaime durante um vendaval em São Paulo. Com uma jaqueta na mão,
Carla conseguiu puxar os homens que balançavam a 30 metros de altura.
O
mais interessante é que nestes momentos, não se percebem diferenças entre as
pessoas: ninguém pergunta qual partido político que gosta, qual o gosto
musical, de que religião a pessoa é, ou coisas do tipo. Diante de uma situação
de perigo, podendo ajudar, todas as outras questões tornam-se irrelevantes.
Schopenhauer
tem um excerto que não posso deixar de citar: "A compaixão universal é a
única garantia da moral”, e o filósofo continua: “Na verdade, meu eu mais
íntimo e verdadeiro existe em todas as criaturas vivas tão verdadeira e
imediatamente como minha consciência sabe disso apenas em mim mesmo”.
Talvez
Carla Pagano jamais tenha lido Schopenhauer, mesmo assim se aventurou a ajudar,
mesmo correndo risco de perder a vida. Ela estava imersa no acolhimento da
Mente Una que nos liga a todos.
Joseph
Chilton Pearce, citado por Larry Dossey, ressalta que a palavra sacrifício,
assim como a palavra sacramento, significa “tornar-se inteiro”, ”tornar-se uma
totalidade”. Infelizmente sacrifício tomou uma conotação negativa, entretanto o
significado original da palavra como totalidade, plenitude, é reservado na
experiência de conectar-se e dar-se ao outro.
O
próprio Larry Dossey salienta que quando superamos as diferenças e entendemos
que podemos ser um com o nosso próximo entramos no domínio da Mente Una.
Pensando
assim, não mais transformaríamos em heróis àqueles que agem motivados pelo amor
ao próximo, mas uniríamos como numa corrente do bem, porque mais que
funcionários suspensos em um edifício em São Paulo, o mundo e tudo o que nele
há, necessita de nossa ajuda.
Sendo
assim, adentrar na lógica da Mente Una, torna-se uma tarefa urgente e
concebível e, sobretudo possível.
Na
próxima semana continuaremos refletindo a respeito da Mente Una. Um grande
abraço para vocês.
Referências:
DOSSEY,
Larry. A conexão da consciência.
Trad. Marta Rosas. São Paulo: Cultrix, 2018.
Interessante demais!
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