A CANÇÃO QUE ME EXORCIZA
A música possui incontáveis propriedades medicinais que beneficiam a saúde física, psicológica e emocional do ser humano. Poderoso fármaco, trata-se de verdadeiro anti-inflamatório para as feridas da alma, anestésico para as dores do espírito e antioxidante que atua eficazmente na patologia dos pensamentos acelerados.
Comigo é assim: sempre que estou melancólico, aflito e colérico, as notas musicais reestruturam a minha existência fragmentada que sente o prazer dos bálsamos e contempla a beleza das estrelas que cintilam dentro da noite veloz.
Existe uma sinfonia que me exorciza sempre que preciso de tranquilidade e perspectiva. “Ne Me Quitte Pas” (“Não me deixes”), canção francófona de Jacques Brel, afasta os demônios que assolam a minha mente ansiosa.
Escrita em 1959, segundo o próprio compositor, “Ne Me Quitte Pas” não é uma exaltação ao amor, mas sim um tratado sobre a covardia dos homens. Talvez a covardia de quem não soube dizer para a sua Suzanne Gabriello o quanto doía-lhe o fim do relacionamento amoroso.
Ao longo das décadas, artistas de várias nacionalidades trouxeram arranjos novos à peça que tanto embalou romances pelo mundo. Frida Boccara, Nina Simone, Sylvie Vartan, Serge Lama, Nana Mouskouri, Céline Dion, Cássia Eller, Maria Gadú, Brian Molko e outros tantos gênios da música eternizaram os versos de um lindo sonho.
Quando o coração aperta, quando a fé no futuro é menor que um grão de mostarda, quando não sei bem mais o que me espera, ouso acreditar “que a melhor primavera é quando a tarde cai” (“qu'un meilleur avril / et quand vient le soir”) e prometo em silêncio que “criarei um país onde o amor será rei, onde o amor será lei” (“je ferai un domaine / où l'amour sera roi / où l'amour sera loi”).
Anjos trevosos adormecem. Sinto paz de criança sobre um berço de delicadeza e fantasia. Anjos de luz dançam nos ares mornos de um “reino de pérolas e palavras absurdas”.
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