SAÚDE MENTAL
Conversas psicanalíticas com o Dr. Eduardo Baunilha
Mecanismos de defesa II
Estudar os mecanismos de defesa é ter uma prova cabal de como nossa psique trabalha incansavelmente para nos proteger de situações que possam nos causar dor. No artigo da semana passada, discutimos a respeito do recalque, da repressão e da sublimação. Um pequeno estudo que foi apenas o início de um outro que continuarei aqui.
Dito
isso, penso em como a NEGAÇÃO é um
mecanismo de defesa que constantemente nos assola. Quem de nós, para fugir de
uma situação recheada de afetos negativos, não negou o que estava sentindo para
não ter que enfrentar uma dor?
Muitas
vezes a pessoa precisa fazer uma análise para entender o porquê de alguns sentimentos
recorrentes muito pouco explicados, mas nega, projetando esse sentimento em
outras situações ou pessoas, com medo de ter que enfrentar a si mesmo.
Outro
exemplo um pouco trágico é por situação da morte de um ente querido. Quando a
notícia é veiculada, a primeira reação, quase instantânea, é dizer que o fato
não ocorreu na realidade. Negar, portanto, é fugir de um contexto que me traz
desagrado.
Arrisco
em dizer que a negação é um mecanismo de proteção da psique que faz mal à
maioria das pessoas que o utilizam, mesmo inconscientemente, pois ela nos
impede de compreender a situação como de fato é, nos limitando a ter um estar
no mundo mais significativo.
Outro
mecanismo que até citei acima, comentando a respeito da negação, é a PROJEÇÃO. Neste caso, para se proteger,
o ego busca projetar em algo ou alguém uma sensação desagradável. Por exemplo:
quando não tiramos uma nota boa na prova, dizemos que a prova foi mal formulada
ou que trabalhamos muito e não tivemos tempo de estudar o suficiente. Ou seja,
transferimos a responsabilidade para outra situação ou ser.
Para
entender melhor o mecanismo de projeção, me lembro de uma experiência ocorrida
comigo. Em uma escola que trabalhei tinha um professor que quase diariamente me
chamava de feio. Qualquer motivo que aparecia era uma oportunidade dele dizer
que eu era muito feio. Observando-o, pude perceber que o que ele queria era que
eu tivesse um sentimento que, na verdade, era dele, por não se aceitar como
era.
O DESLOCAMENTO acontece quando você muda
o alvo de seus afetos, aplicando determinada energia. Vou exemplificar: você
briga com o cônjuge e vai trabalhar. No local de trabalho você discute com um
colega por algo que ele fez que te deixou muito irritado(a) no momento, mas que
em outra situação seria spelo cônjuge para um outro indivíduo.
Um
outro mecanismo muito comum a todos nós é a
TRANSFERÊNCIA. No caso da transferência, geralmente ela é estabelecida na
infância. Ao passar por violência física, psicológica ou sexual quando infante,
uma pessoa pode desenvolver problemas com figuras de autoridade, ou ser
extremamente violenta para com aqueles que desejam lhe mostrar limites.
A
transferência, assim como os outros mecanismos já citados, pode ser negativa,
positiva ou ambivalente.
Quando os mecanismos de
defesa são positivos podem nos ajudar a ter uma vivência mais significativa,
mas quando são negativos ou ambivalentes podem fazer com que fiquemos confusos,
ou até mesmo tenhamos uma visão distorcida da realidade.
Neste
caso, é necessário fazer análise para que o entendimento possa ser encontrado
e, assim, não agirmos de maneiras limitantes, fazendo a vida ser opaca, sem
vida e cor.
Até
a próxima semana.
Parabéns Eduardo, ótimo texto!!
ResponderExcluirEle nos conduz a várias reflexões sobre nossa postura em relação às pessoas com quem convivemos e colabora também para desmitificar em alguma medida a complexidade do ser/estar no mundo.
Eduardo, gosto muito das suas ponderações, obrigado por compartilhar esses assuntos tão relevantes.
ResponderExcluirExcelente texto Eduardo! Muito bem explicado, pertinente e principalmente esclarecedor.
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