A criança e os efeitos do estresse

           



SAÚDE TOTAL

CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA

A criança e os efeitos do estresse

Donald Woods Winnicott, um pediatra e psicanalista inglês, fez uma contrafação da proposição darwiniana que regia que se a espécie não se adaptar ao meio, certamente será extinta. Para Winnicott o meio deveria se adaptar ao indivíduo, porque senão, assim o indivíduo teria muitas dificuldades na vida.

Ao longo da vida humana constatamos que os reveses pelas quais muitas pessoas vivem são resultado de não terem tido um ambiente acolhedor, mas na sociedade moderna, tal efeito tem sido muito patente e devastador.

Nadine Burke Harris, uma pediatra americana e pesquisadora do estresse em crianças, tem muito a dizer a respeito. Sua pesquisa, em um bairro pobre da nação norte-americana, não é isolada, pois é cotejada por várias outras em outros países, com as mesmas respostas e constatações.

A criança que vive em um ambiente estressor tem um nível de cortisol muito grande na corrente sanguínea. Não que o cortisol seja um vilão, mas neste caso não tem como vê-lo de maneira diferente.

Acontece que um nível de cortisol muito alto estimula a acumulação de gordura, fazendo que o corpo sinta necessidade de consumir alimentos com alto teor de gordura e açúcar. Cria-se então, outros problemas a partir disso. Problemas já conhecidos por nós.

Como a criança é um ser ainda em desenvolvimento, elas são particularmente sensíveis a ativações repetidas de estresse. “Altas doses de adversidade afetam não apenas a estrutura e a função cerebral, mas também os sistemas imunológico e hormonal em desenvolvimento, e até mesmo o modo como o DNA é codificado e transcrito. Quando o sistema de resposta ao estresse começa a funcionar de forma desregulada, os efeitos biológicos se multiplicam, causando problemas em órgãos individuais (HARRIS, 2019, p. 79).

E se não fosse muito, a criança que se encontra em um ambiente constantemente estressante, tem o seu hipocampo diminuído. O hipocampo é a parte do cérebro responsável pelos pensamentos e pela memória.

Também quando, na criança, o sistema de resposta do estresse não tem descanso, isso altera a sensibilidade dos seus receptores de dopamina. E o que acontece? Elas precisarão cada vez mais de dopamina para sentirem prazer. O que pode leva-las para caminhos não muito interessantes na busca deste prazer.

Já mencionamos que o sistema imunológico é um dos alvos do estresse tóxico. Quando este é atingido, pode contribuir para que a criança desenvolva doenças autoimunes como lúpus, diabetes tipo 1, artrite reumatoide, fibrose pulmonar idiopática e esclerose múltipla.

O mais assustador de tudo isso é que pesquisadores da Nova Zelândia constataram que passados mais de 20 anos, as pessoas que sofreram de estresse crônico na infância, ainda tinham marcas de inflamação pelo corpo, ou seja, as dificuldades podem nos acompanhar da infância à vida adulta.

Cuidemos bem de nossas crianças!

Um fortíssimo abraço para você!

Instagram: baunilha45 e s48m7

 

Referência:

HARRIS, Nadine Burke. Mal profundo. Trad. Marina Vargas. Rio de Janeiro: Record, 2019.


3 Comentários

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  1. 👏🏼👏🏼👏🏼 👏🏼Muito útil! Ângela

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  2. Excelentes informações, com dados científicos e muito úteis para os leitores!!! Parabéns, Edu👏👏👏👏

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