CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA
Experiência ou vivência
Será
que existe diferença entre vivência e experiência? O Dicionário da Língua
Portuguesa, elaborado pela Academia Brasileira de Letras, aglutina os dois
vocábulos quando conceitua que a vivência é o “conhecimento adquirido e
desenvolvido através da experiência de vida”.
No
entanto, Walter Benjamin, um literato e pensador alemão, fez uma distinção
entre os dois quando escreveu que um conjunto de vivências sem muito
significado, não faz, por si mesmo, uma experiência.
Walter
Benjamin nos eleva a um pensar bem mais arguto que o próprio dicionário. O
pensador movimenta nosso pensamento na direção das práticas de vida atual.
Vivemos muitas situações sem angariar experiências por causa da sensação
psíquica de que tudo tem que ser feito muito rápido e em grande quantidade,
porque estamos em um momento em que tudo é mais acessível, mais prático.
Saímos,
namoramos, jantamos fora, brincamos com os filhos, vamos a parques,
trabalhamos, nos comunicamos, mas tudo superficialmente. Estamos nos lugares,
com as pessoas, mas de forma banal, vazia, pobre.
Não
é por acaso que a tristeza encampou em nós, por causa destas vivências que não
surtem experiências.
Christian
Dunker (2021, p. 163) também dialoga a respeito destes dois conceitos e faz uma
distinção entre eles. Para ele “a vivência é uma verticalização das sensações,
o que a torna um evento efêmero e individual. A experiência, ao contrário, é um
horizontalização das sensações e demanda uma partilha social dos afetos”.
Para
exemplificar experimente passar mais de 10 horas jogando com um grupo de amigos
da faculdade, como ouvi de um adolescente recentemente. Parece que o momento
foi rico, mágico, mas no fim deixa uma sensação de solidão intensa. Houve
vivência, mas não experiência.
Por
outro lado, fique mais de 3 horas conversando com uma pessoa muito agradável,
alegre e cheia de vida. Quando terminar este momento parecerá que conversaram
por apenas 5 minutos, pois a experiência compartilhada se conectou de tal
maneira que se criou um engajamento. Certamente ficará na memória estes instantes
e, certamente, serão compartilhados, por causa do prazer e da alegria
vivenciados.
Precisamos
ficar atentos. Quantas vezes estamos junto com muitas outras pessoas num mesmo
espaço geográfico e estamos longe tendo vivências midiáticas, perdendo a experiência
que poderíamos e deveríamos ter por meio da conversa interessante, engraçada,
construtiva, amiga, informativa e/ou confortadora.
Pensemos
nisso!
Um
fortíssimo abraço para você. Até a próxima!
Referência:
DUNKER, Christian. Uma biografia da depressão. São Paulo: Planeta, 2021.
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