Herança da cultura judaica no Brasil é inspiração
dessa montagem da Cia de Artes EM CriAção, contemplada no Edital de Cultura
Sesc RJ Pulsar 2021/2022.

Uma
noiva é assassinada a caminho do casamento, simplesmente, por ser judia. O
crime, que era comum na Europa Inquisitória nos séculos passados, também foi
cometido em cidades brasileiras, onde a herança judaica está fortemente
marcada, principalmente no Nordeste. A história pouco difundida é contada na
peça “Rhupá, a fábula da noiva cadáver”, em montagem da Cia de Artes EM
CriAção, contemplada no EDITAL SESC RJ DE CULTURA 2022 , com direção de
Alexandra Arakawa.
Inspirada
numa fábula judaica — a mesma que serviu de mote ao filme “A noiva cadáver”
(2005), de Tim Burton —, a história ganhou versão de César Valentim no texto e
na dramaturgia. “Esta é uma parte de
nosso passado pouco conhecida. Mesmo em nosso país, houve uma violenta
perseguição contra o povo judeu, que se via obrigado a encobrir determinados
costumes e práticas. De certa forma, é um assunto contemporâneo. Impossível não
fazer um paralelo com os grupos atualmente perseguidos no mundo e, por isso,
exilados de suas próprias pátrias e culturas”, reflete o autor, que também
está no elenco ao lado de Rita Grego e Eduardo Ibraim.
“Rhupá,
a fábula da noiva cadáver” joga luz na trajetória dos marranos, judeus
obrigados a se converter ao catolicismo, chamados "cristão novos".
Muitos fugiram para o Brasil ou foram enviados de forma forçada no período
colonial, ao mesmo tempo em que faz um paralelo com os atuais crimes de
violência contra a mulher e os feminicídios. A história acompanha os dramas de
uma mulher morta violentamente, vítima de um crime cometido momentos antes de
seu casamento.
Séculos
depois, um noivo a caminho de seu casamento faz toda a liturgia e casa-se
"por acidente" com a cadáver, e desperta esta noiva cadáver de volta
ao “mundo dos vivos”. A ambientação não tem uma localização de tempo ou local,
mas faz referências aos costumes e tradições enraizados em nossa cultura, mas
que tem herança tipicamente judaica, a montagem expõe – entre reflexões sobre a
idealização do amor e eventuais desencontros amorosos – as tensões provocadas
pelo empoderamento feminino. O centro de tudo é essa mulher, ela é a fortaleza,
como uma árvore centenária.

A
proposta da Cia de Artes em CriAção vai um pouco mais fundo na essência real
dessa fábula para adultos, traçando um paralelo com as heranças e tradições
judaicas na cultura brasileira. “A ideia
cênica é baseada no teatro do absurdo e no metateatro, que é a linha de
pesquisa da Cia. Em cena a atriz representa o passado e está presa, enraizada
em suas histórias e as tradições, os outros personagens estão livres e
representam o tempo futuro, visualmente representam questões de gênero
fortemente debatidas, principalmente, dentro das religiões e classes mais
conservadoras, eles entram e saem de cena, transitam e dialogam com o público,
mas não são livres das tradições”, ressalta Alexandra Arakawa - diretora do
espetáculo.
Essa
noiva é uma mulher de séculos atrás, que ultrapassa o tempo, a vida e a morte.
Expõe-nos uma violência brutal que ainda existe nos dias de hoje..., os crimes
contra mulher, o feminicídio e, inevitavelmente, o machismo e o patriarcado,
que calam decisões femininas e os direitos de igualdade. Essa noiva cadáver
representa a resistência, a força. Apesar da tragédia, ainda tem romantismo,
delicadeza e sutileza no sonho de se casar.
“A personagem central é uma figura
feminina enraizada em seus sonhos, sua visão de mundo. Busquei criar uma imagem
feminina forte que conduzisse toda a história com uma visão de um humor ácido,
que é característico do humor judaico. Ela traz a luz para esses dois
personagens que entram em cena, o noivo e o rabino. E com pinceladas de absurdo
essa noiva vai conduzindo a história no desenrolar das ações”, explica
Valentim.
Seguindo
a linha do teatro do absurdo, a cena segue uma proposta em que a realidade
mistura-se com a fantasia, o texto permeia a fábula contando uma história real
e trágica de forma fantástica, com piadas ao estilo do humor judaico, ácido! O
conflito dramático da encenação está entre honrar a liturgia já falada para a
noiva cadáver ou seguir as tradições e cumprir o casamento com a noiva
prometida. A trilha sonora original de Laura Finocchiaro tem como base as
músicas tradicionais judaicas, porém com uma essência nordestina, arranjos
fortes e algum peso do rock.
Serviço.
“Rhupá,
a fábula da noiva cadáver”.
Local:
Multiuso Sesc Copacabana.
Endereço:
Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana, Rio de Janeiro – RJ.
Temporada:
de 21 de julho a 7 de agosto (de quinta a domingo) - 4 sessões extras dias
30/07, 31/07, 06/08 e 07/08 - sábados e domingos, às 16h.
Horário:
18h.
Lotação:
36 lugares.
Classificação:
14 anos.
Duração:
60 minutos.
Valores:
R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira).
Por:
Clilton Paz.
Fonte:
Angélica Zago.
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