A DOR TEM PRESSA
Foto de Arquivo Pessoal
Em dois julgados importantes do Supremo Tribunal Federal (criminalização da homofobia e fornecimento de medicamentos e procedimentos de alto custo pelo Sistema Único de Saúde), a ministra Carmen Lúcia disse, com toda sua sabedoria e firmeza, que "a dor tem pressa".
Em um dos seus mais notáveis poemas, o saudoso Sérgio Luiz Blank, diante do corpo morto do seu pai, rogou: "bem devagar / devagar com a dor / que o santo é de barro e oco / e Deus não operou o eco".
A filósofa Viviane Mosé frequentemente afirma que a dor é essencial para o ser humano, pois ela elastece a alma, torna-a grande, capaz de experimentar e sentir o mundo.
A dor é um dos temas prediletos para os religiosos, poetas, filósofos, juristas, políticos e cientistas. Parece um assunto quase que selado e difícil de trazer novidades, já que as produções científicas, teológicas e artísticas avolumaram-se demasiadamente pelos séculos.
Todavia, hoje acordei indagando-me o quanto a dor é capaz de despertar a capacidade de empatia. Não sei ao certo se a palavra é empatia ou se o sentido de "empatia" tornou-se vulgarizado demais. Para mim, não é preciso colocar-se no lugar do outro para compreender a dimensão e o valor de quem sente.
Recentemente, uma prima muito querida de apenas catorze anos de idade enfrentou uma grave enfermidade. Amparada por excelentes médicos e por multidões que rogavam e cantavam hosanas ao Senhor pela cura, a menina manteve-se com bastante fé e determinação, diferentemente do seu pai que sempre possuía nos olhos verdes e contritos uma melancolia e angústia muitas vezes mal compreendida. Um pai honrado e zeloso quer mesmo é ver a sua prole perdida a brincar de esconde entre girassóis e margaridas.
Mendigos incendiados, gays assassinados nas ruas, crianças estupradas, mulheres repletas de bossas linfáticas, a mão da baiana Dulce dos Pobres cuspida por um aristocrata barato, terreiros de axé em pólvoras, vendedores que tentam trocar flores por pães num país de inflação incontrolável.
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