SAÚDE MENTAL
Conversas psicanalíticas com o Dr. Eduardo Baunilha
Até que exista mundo
Quando
descubro que Catão aprendeu grego aos oitenta anos, que Sófocles escreveu seu
livro Édipo, que Simonides ganhou um
prêmio de poesia, derrotando seus pares, quando cada um deles tinha mais de
oitenta anos, quando Claucer aos sessenta anos escreveu os Contos de Canterbury e Goethe escreveu seu célebre Fausto quando tinha mais de oitenta anos,
fico a pensar que a capacidade humana de produzir qualquer tipo de cultura não
tem tempo e nem idade.
O
artista Goya fez um retrato de um homem bastante idoso, quando já estava com a
visão bastante prejudicada e já tinha mais de oitenta anos: “Ainda estou
aprendendo”, disse ele.
Lya
Luft começou sua carreira de escritora aos 41 anos de idade e agora aos 83 anos
ainda continua a nos encantar com sua escrita.
Judith
Viorst conta que um estudante de 72 anos que trabalhava em seu projeto de PhD
de psicologia disse: “Tenho muitos projetos de que poderei realizar nos
próximos cinquenta anos. Não tenho tempo para morrer”.
Cada
um desses exemplos nos transportam para um mundo totalmente diferente do que
nos é apresentado diariamente, quando se relata a respeito da melhor idade.
Quando lemos relatos como os supracitados, entendemos que a vida é mais longa
do que ora imaginamos, principalmente quando damos significado a cada dia que a
vivenciamos.
Não
é o tempo que conta, pois podemos morrer em qualquer idade, mas a capacidade
que temos de nos reinventar a cada dia, vivendo-os como se fossem os últimos
momentos.
Lya
Luft deixou escrito em seu Perdas e
ganhos – obra publicada quando ela estava aos 65 anos – “que a morte torna
a vida muito importante”. Tal proposição nos move a buscar uma leveza diante de
tanto caos. Estamos diariamente sendo testemunhas de muitas mudanças drásticas
e repentinas e, muitas delas muito desagradáveis.
Por
causa disso nos sentimos desamparados, angustiados, por não termos recursos
internos para tanto. Assim, precisamos nos preparar fisicamente e
psicologicamente, para que quando chegarmos à primavera da vida, possamos
continuar nossa existência com propósitos firmes e possíveis, apesar dos
reveses.
Numa
sociedade que enaltece a juventude em todos os âmbitos, nossos brasileirinhos e
brasileirinhas mais experientes precisam acreditar que enquanto existir vida,
suas percepções, ações, influências e palavras ainda têm força. E mesmo quando
não mais aqui estiverem, estes mesmos legados ainda continuarão a ecoar até que
exista mundo.
Um
grande abraço para vocês. Até a próxima semana.
Referências:
LUFT,
Lya. Perdas e ganhos. Rio de Janeiro
(RJ): Record, 2004.
VIORST,
Judith. Perdas necessárias. Trad.
Aulyde Soares Rodrigues. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2005.
Palavras precisas e necessárias. Parabéns pelo artigo brilhante!
ResponderExcluirFantástico, a melhor idade é a que vc está agora, é viver o hj, produzir, sempre temos o que contribuir, parabéns amei!
ResponderExcluirPostar um comentário
Sejam bem-vindos à Cellebriway.
A sua Revista Eletrônica