SAÚDE MENTAL
Conversas psicanalíticas com o Dr. Eduardo Baunilha
A primeira ferida emocional: a rejeição
Das cinco feridas emocionais, a primeira
ferida que vamos discutir é a rejeição, pois é uma das mais profundas e pode
ser uma das primeiras a surgir.
O
que acontece é que o indivíduo que se sente rejeitado não se sente no direito
de existir. Mas antes mesmo de continuar o assunto, preciso traçar para vocês a
diferença que existe entre abandono e rejeição.
Abandonar
é deixar algo ou alguém em prol de outro, enquanto rejeitar é rechaçar, não
querer ao seu lado, em sua vida.
Já
entendemos que desde que éramos espermatozóides passamos por situações muito
desafiadoras, mortais e extremamente estressantes até chegarmos à parede do
útero para a continuação do milagre da vida. Agora vamos imaginar uma mãe que
engravida de forma não planejada, com muitos problemas conjugais e até
financeiros. Como você acredita que esta criança vai se sentir? Será que este
sentimento não a acompanhará por muitos anos?
Outro
ponto que também pode ser elaborado pela criança como rejeição é ela ser
superprotegida, porque ela pode entender esse gesto dos pais como uma não
aceitação do que ela é. Diríamos que é a rejeição de suas capacidades que é
atingida. Então, o rejeitado se sente inútil e, por essa razão, vai tentar ser
perfeito em todos os sentidos.
Palavras
muito comuns utilizadas por uma pessoa com a ferida da rejeição são: inútil,
nada, sumir e inexistente. Geralmente não gosta de chamar muita atenção,
preferindo ficar sozinho por medo de não saber como agir em grupo. Outro fator
de isolamento é o medo de novamente ser rejeitado.
A
ferida da rejeição acontece no relacionamento da pessoa com o genitor do mesmo
sexo. Muitas vezes não significa que houve uma rejeição por parte do pai ou da
mãe, mas foi como o filho ou a filha entenderam determinadas atitudes deles.
A
consequência, relata Lise Borbeau “é que a pessoa que sofre de rejeição busca
procurar incessantemente o amor do genitor do mesmo sexo que ela, seja buscando
esse pai ou mãe, seja transferindo sua busca para outras pessoas do mesmo
sexo”. Procura esse amor por sentir-se incompleta enquanto não o encontrar.
Diante
dessa busca, o sofrimento pode se tornar tão intenso que passa a cultivar amor
e ódio dentro de si.
Devemos
nos lembrar que o ódio exige muito amor. É um grande amor frustrado que se
transforma em ódio. De todas as feridas que vamos analisar, a da rejeição é que
leva o indivíduo a ser mais inclinado a sentir ódio, por portar em si esse
forte senso de desvalor.
Diante
de tudo que já comentamos você já deve ter percebido que o rejeitado tem uma
dificuldade enorme de se comunicar, pois tem medo de não ser interessante, de
ser inoportuno, de ser incompreendido ou mesmo de entrar em pânico.
Até
o apetite da pessoa que sofre de rejeição é alterado. Geralmente comem pequenas
porções e quando está em situações em que o medo e as emoções intensas imperam,
perdem totalmente a vontade de se alimentar.
Outra
questão que é importante frisar é que nosso corpo se molda a nossa ferida. O
ser rejeitado facilmente pode contrair doenças como: diarreia, arritmia e
câncer. Também pode ter problemas respiratórios, alergias, vômitos, ou mesmo
problemas psicológicos como agorafobia, psicose ou depressão.
O
importante é não negarmos o que sentimos, se por acaso termos essa ferida, e
muito menos negar ajuda àqueles que a têm, apontando tratamento e tendo
paciência para com suas reações em alguns contextos.
Qualquer
ferida, e isso serve para a da rejeição, pode ser ressignificada se nos abrirmos
à intervenção de um bom profissional para nos ajudar.
No
próximo artigo conheceremos a segunda ferida emocional. Um grande abraço.
Referência:
BORBEAU,
Lise. As cinco feridas emocionais
Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Sextante, 2020.
Perfeito como sempre, Eduardo!
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