SAÚDE MENTAL
Conversas psicanalíticas com o Dr. Eduardo Baunilha
Os sonhos
Um
dos escritos mais importantes da carreira acadêmica de Sigmund Freud foi A interpretação dos sonhos. Taticamente,
o pai da psicanálise deixou para lançá-lo em 1900 para que ele pudesse ser um
marco na virada do século.
E,
de fato, o livro foi muito importante para a história da Psicanálise. Seus
postulados muito colaboram para o entendimento das ações do indivíduo, pois ao
relatar os sonhos que, segundo Freud, são manifestações de desejos e, ao obter
uma possível interpretação por parte do analista, o paciente pode compreender
melhor suas ideias e, consequentemente rever suas atitudes.
Por
firmar o sonho como manifestação de desejo, lembro-me da história do pequeno
Hermann, de 1 ano e 10 meses. Ele e sua mãe iriam, no dia seguinte, a um
aniversário e ela preparou uma cesta de cerejas para que ele pudesse dar para o
aniversariante. Obviamente que o pequeno estava cheio de vontade de comer as
cerejas, mas como era um presente não poderia então realizar seu intento. Quando
acordou pela manhã disse para a mãe que havia tido um sonho. No sonho ele ganhava
uma cesta de cerejas e que havia comido todas.
O
sonho do pequeno Hermann exemplifica a maneira como o inconsciente trabalha em
função de minimizar o desconforto de um desejo negado.
Também,
os sonhos servem para nos dar gratificações alucinatórias para que possamos
lidar com alguns desejos que, se não fosse assim, seriam perturbadores demais.
E eles nos proporcionam um encontro com
a realidade.
Por
exemplo: uma senhora, mãe de cinco filhos, estava muito insatisfeita com as
ações de seu marido. Tinha muita vontade de ir embora e começar a vida em um
outro lugar. Uma noite teve um sonho em que estava em uma estação com cinco
malas. Se sentia só e desprotegida e sem saber como iria fazer para carregar aquelas
cinco malas, pois ninguém se prontificava a ajudar.
Tal
sonho é facilmente interpretado. As cinco malas são seus cinco filhos. Lidar
com eles sozinha é quase impossível e, por isso, simbolicamente, a dificuldade
de lidar com as malas a fez sentir como seria sua realidade se resolvesse ir
para outra localidade sem seu marido. Percebemos então que, tais sonhos podem
mobilizar a pessoa a refletir a respeito de suas decisões muitas vezes
menosprezadas na instância consciente.
Tais
ditos fazem emergir a seguinte pergunta: se os sonhos são manifestações de
desejos, como explicar os sonhos ruins, que muitas vezes nos fazem acordar
cheios de ansiedade?
Pois
é, nem sempre a elaboração do sonho obtém sucesso completo na realização dos
desejos e, as vezes, o afeto proveniente do pensamento do sonho fique excedente
e cause desagrado.
Segundo
Freud, isso acontece porque é mais difícil mudar o sentido dos afetos que o
conteúdo dos sonhos. Os afetos mais resistentes podem permanecer inalterados no
sonho manifesto.
Uma
outra pergunta interessante emerge: se os sonhos são realizações de desejos,
a quem ele deve proporcionar prazer? Ao sonhador ou a quem censura? O sonhador
que deseja também é o que censura. Portanto, temos o desejo do inconsciente e o
desejo do pré-consciente e do consciente que nunca estão de acordo. As
exigências de um são bem diferentes das dos outros, por isso a angústia.
Todavia,
causando angústias, minimizando o impacto de desejos ou revelando atitudes,
fazendo-nos refletir, os sonhos são condutos importantíssimos da manifestação
do nosso inconsciente, por isso devem ser cuidadosamente considerados.
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